Aniquilação ou Punição Eterna?

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Após o julgamento de Jesus quando ele voltar como justo juiz haverão aqueles que irão ser salvos e, consequentemente, haverão também aqueles que serão condenados. Mas, para onde irão os "condenados"? Sofrerá apenas uma aniquilação do ser ou um pena perpétua? A Rede ID, com a ajuda do Ministério Ligonier e do Ministério Fiel, trás este tema de grande interesse por muitos dos que professam a fé tanto cristã quanto não cristã. Continue a leitura e descubra este universo!


O aniquilacionismo é a visão de que os perdidos no inferno serão exterminados após terem pago a pena por seus pecados. Seu proponentes oferecem seis argumentos principais. 

O primeiro argumento se baseia no simbolismo usado pela Bíblia para descrever o inferno. Dizem que o fogo consome o que é lançado nele, e assim será com o lago de fogo (Ap 19.20; 20.10, 14, 15; 21.8) — ele queimará completamente os perversos de maneira que eles não mais existirão.

O segundo argumento se baseia em textos que falam do perdido perecendo ou sendo destruído. Exemplos incluem incrédulos perecendo (Jo 3.16) e sofrendo “penalidade de eterna destruição” (2Ts 1.9).
O terceiro argumento se baseia no significado da palavra eterno. Nas passagens do inferno, diz-se, eterno significa apenas “na era vindoura” e não “perpétuo”.

O quarto argumento se baseia em uma distinção entre tempo e eternidade. Os aniquilacionistas perguntam: como é justo que Deus puna pecadores pela eternidade quando seus crimes foram cometidos no tempo?

O quinto argumento é um argumento emocional de que o próprio Deus e seus santos jamais desfrutariam do céu se soubessem que alguns seres humanos (somente os entes queridos e amigos) estariam perpetuamente no inferno.

O sexto argumento diz que um inferno eterno mancharia a vitória de Deus sobre o mal. A Escritura declara que Deus será vitorioso no final; ele será “tudo em todos” (1Co 15.28). Dizem que essa ideia parece difícil de reconciliar com seres humanos sofrendo interminavelmente no inferno.

Eu vou responder cada um desses argumentos. Primeiro, o argumento do fogo do inferno. Muitas passagens usam essa linguagem sem interpretá-la. É possível, portanto, ler várias visões nessas passagens, incluindo o aniquilacionismo. Todavia, nós não queremos impor nossas ideias à Bíblia, mas receber nossas ideias da Bíblia. E quando o fazemos, descobrimos que algumas passagens impossibilitam um entendimento aniquilacionista do fogo do inferno. Entre elas está a descrição de Jesus do inferno na parábola do homem rico e de Lázaro como um “lugar de tormento” (Lc 16.28) envolvendo estar “atormentado nesta chama” (v. 24).

Quando o último livro da Bíblia descreve as chamas do inferno, ele não fala de ser consumido, mas diz que o perdido “será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite” (Ap 14.10-11).

Segundo, o argumento das passagens que falam de destruição ou perecer. Novamente, quando a Escritura meramente usa essas palavras sem interpretá-las, muitas visões podem ser impostas a elas. Mas, mais uma vez, nós queremos ler o seu significado a partir da Escritura. E algumas passagens são impossíveis de reconciliar com o aniquilacionismo. Paulo descreve o destino dos perdidos como sofrer “penalidade de eterna destruição” (2Ts 1.8). Notável também é o destino da Besta no Apocalipse. “Destruição” é profetizada para ele em 17.8, 11. A Besta (junto com o Falso Profeta) é lançada no “lago de fogo que arde com enxofre” (19.20). A Escritura é inequívoca quando descreve o destino do diabo, da Besta e do Falso Profeta no lago de fogo: “Serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (20.10). Então, a “destruição” da Besta é tormento infindável no lago de fogo.

Terceiro, o argumento da palavra eterno. Nas passagens do inferno, diz-se, eterno se refere apenas à “era vindoura” e não “infindável”. É verdade que no Novo Testamento, eterno significa “perene”, e o contexto determina quanto dura esse tempo. Mas a era vindoura dura tanto quanto a vida do próprio Deus eterno. Por ser ele eterno — ele “vive pelo século dos séculos” (Ap 4.9, 10; 10.6; 15.7) — assim também é com a era vindoura. Jesus estabelece isso claramente em sua mensagem sobre as ovelhas e os cabritos: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25.46; ênfase adicionada). A penalidade dos perdidos no inferno é coextensiva com o êxtase dos justos no céu — ambos são infindáveis.
Quarto, o argumento de que é injusto que Deus puna pecadores eternamente por pecados temporais. Impressiona-me a presunção de seres humanos em dizer a Deus o que é justo e injusto. Faríamos melhor em determinar o que ele considera justo e injusto a partir de sua Santa Palavra.

Jesus não deixa dúvidas. Ele dirá aos salvos: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). Ele dirá aos perdidos: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (v. 41). Nós já vimos João definir esse fogo como punição eterna e consciente no lago de fogo para o diabo (Ap 20.10). Alguns versículos mais tarde, lemos que seres humanos não-salvos partilham do mesmo destino (vv. 14-15). Evidentemente, Deus acha justo punir seres humanos que se rebelam contra ele e contra sua santidade com um inferno infindável. Será que cabe mesmo a nós chamar isso de injusto?

Tratarei o quinto e o sexto argumentos juntos. O quinto é o argumento emocional de que Deus e seus santos nunca desfrutariam do céu se soubessem que seus entes queridos e amigos estivessem no inferno para sempre. O sexto é o argumento de que um inferno eterno mancharia a vitória de Deus sobre o mal. É digno de atenção o fato de que os universalistas usam esses dois argumentos para insistir que Deus, no fim das contas, salvará todos os seres humanos. Deus e seu povo nunca desfrutariam do êxtase do céu se sequer uma alma permanecesse no inferno, argumentam. No final, todos serão salvos. Deus sofreria derrota se quaisquer de suas criaturas criadas à sua imagem viessem a perecer para sempre.

Eu considero esses argumentos para o aniquilacionismo e o universalismo — da emoção e da vitória de Deus — como reescrever a história bíblica, algo que não temos o direito de fazer. Digo isso porque os três capítulos finais da Bíblia apresentam o estado eterno das coisas. Os santos ressurretos serão abençoados com a eterna presença de Deus na nova terra (Ap 21.1-4) e, o que é interessante para a nossa atual discussão, cada um dos três capítulos finais da Escritura apresenta o destino dos não-salvos:

O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos. (20.10)

Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (vv. 14-15)

Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (21.8)

Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira. (22.14-15)

A história da Bíblia não termina dizendo: “E os injustos foram destruídos e não existem mais”. Também não diz: “E no fim, todas as pessoas serão reunidas pelo amor de Deus e serão salvas”. Mas, quando Deus encerra sua história, seu povo desfruta de infinito êxtase com ele na nova terra. Mas o perverso sofrerá tormento sem fim no lago de fogo e será deixado de fora da Cidade Santa, a Nova Jerusalém, que é a jubilosa morada de Deus e seu povo para sempre.

Nós não temos direito de reescrever a história bíblica. Pelo contrário, devemos deixar que Deus defina o que é justo e injusto e o que é proporcionado com seu ser “tudo em todos”. Ele não nos deixa em dúvida quanto ao inferno porque ele ama pecadores e quer que eles creiam no evangelho nesta vida.

Quão amável e misericordioso da parte dele incluir esse convite no fim de sua história: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17). Todos os que confiam em Jesus em sua morte e ressurreição para resgatá-los do inferno, terão parte na Árvore da Vida e na Cidade Santa de Deus. Todos os que o fazem com todos os santos podem dizer agora e dirão para sempre:

Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos. (19.1-2)

Publicação autorizada pelo Ministério Fiel.
Artigo original em: MF


Robert Peterson
Dr. Robert A. Peterson é professor de teologia sistemática no Seminário Teológico Covenant em St. Louis.

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